quinta-feira, 13 de maio de 2010

O homem que sabe tudo

Ouvi dizer que lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, mora um homem que sabe e adivinha tudo. É isso mesmo. Tudo que podemos imaginar. Me contaram que ele sabe quantas estrelas há no céu, e quantos grãos de areia formam o deserto do Saara. Neste momento ele sabe o quê, e porque estou escrevendo essas palavras, sentado aqui, na poltrona deste ônibus. O bendito homem sabe até o que você, caro leitor, está pensando e fazendo nesse momento em que lê o meu relato.
Talvez você esteja pensando, “é impossível”, mas nada disso importa no momento. O que importa é que ele adivinha tudo. Tudo mesmo. Talvez você esteja querendo saber quem é, e onde mora o tal homem. Eu também fiquei morrendo de curiosidade para descobrir tudo sobre ele. Dizem que ele conhece tudo e todos, sem nunca ter ido um só dia da sua vida à escola ou qualquer faculdade. Mas como é possível um homem que mora lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, que nunca foi à escola, saber de tantas coisas assim? Não se preocupe amável leitor. Ao contrário de você, que está aí, sentado no sofá de casa, no banheiro, ou em qualquer outro lugar, lendo este texto, eu resolvi procurá-lo.
Assim que ouvi essa história, um sentimento de curiosidade mórbida me tomou o coração e a alma. Acho que você também ficou curioso não? Tenho quase certeza que sim. O que você faria se o encontrasse agora? O que lhe perguntaria? Primeiramente eu pensei em lhe pedir que me ensinasse tudo que ele sabe. Comprei a passagem e ... Aqui estou nessa poltrona de um ônibus que vai lá para as bandas de não sei onde, perto de lugar nenhum, viajando a mais de três horas. Mas depois de ter refletido muito, resolvi que não vou mais procurá-lo. Sim senhor. Não vou mais atrás desse bendito homem, e o motivo pelo qual não vou mais procurá-lo é muito simples. Sendo ele o homem que sabe tudo, então com certeza ele sabe quais são as minhas reais intenções em tentar achá-lo. Então, talvez ele nem me receba. Talvez mude de cidade, de país ou de planeta, se possível.
Desse modo cheguei à conclusão de que, se as minhas intenções não fossem as que são agora, com certeza ele me receberia de braços abertos, mas hoje sei que não o faria. Acho que esse homem deve ser muito humilde e muito feliz, pois, só quem é muito sábio compreende que a felicidade está nas pequenas coisas da vida.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Efêmero

Sons, imagens, carros e sapatos,
Sentimento puro de atração.
Sociedade de consumo,
Louca lógica sem razão.

Sob a batuta do efêmero,
O novo vem para seduzir.
E consumidos pelo agora,
Sem demora, sem sentir.

Desejos vem e se renovam,
Num sonho louco e passageiro.
Nossos sentidos nos enganam,
Sou teu carrasco e prisioneiro.

Apenas fruto do consumo,
Amigo, amante do banal.
Buscamos sempre o inusitado,
Somos indústria cultural.
Será que estou alienado?
Não me importo, e sou feliz,
Pois esse império me absorve,
Do jeito que eu sempre quis.



Leomir Santana

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Segregados

 







Sociedade excluída,
segregados homens são.
Por escolha e por vontade?
Talvez "mera imposição".

A minha pele negra expele a dor passada,
presente em meu coração.
Em minhas lágrimas cor de sangue,
o sofrimento de uma nação.

Sou descendente de Palmares.
Eu sou um povo sofredor.
A minha voz silenciada,
pelo meu grito de dor.

Sou filho, neto, pai e amigo,
não desisto de lutar!
Sou filho, neto, pai e amigo,
não me canso de falar!

Somos todos segregados,
todos somos humilhados.
Sociedade oprimida,
nessa luta pela vida.

Vida louca, sem sentido,
ser humano afligido.
Tua força vem de dentro,
sua vida, seu lamento!





Leomir Santana

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Impulso

Quem é você?
Um anjo, um demônio?
Não sei, nem quero saber.
Não quero saber se você me ama, ou me odeia,
Com todas as suas forças, pernas e pensamentos.
Sentimentos.


Desejos que tomam meu peito,
E me deixam assim inquieto,
Preso no teu jeito perfeito de ser.
Mas tudo que sinto, para você,
É nada... Nada.


E nada me faz mais feliz,
Do que estar perto,
Vivendo em você.
Vivendo um sonho,
Sonhando sempre,
Sonhando que tenho você.
Mesmo sem querer o meu querer.



Leomir Santana

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A ilha dos enigmas

Para falar a verdade, não tenho o hábito de escrever histórias fantásticas, cheias de seres mitológicos, ou algo do tipo, mas o que vou narrar agora pode parecer surreal para algumas pessoas. Cabe a você, assíduo leitor, comparar e interpretar os fatos descritos a seguir como quiser e bem entender. 
Então sem mais delongas...
Distante 42 milhas da costa, em pleno Oceano Pacífico, está Nirraj: ilha cercada por águas calmas e serenas.
Poderia levar horas falando de suas belezas: suas montanhas imponentes; seus prédios dourados em forma de pirâmide; seus cinco palácios de mármore... Mas, com toda certeza, o que mais chama a atenção em Nirraj é o seu poder de ludibriar e encantar de maneira sutil e imperceptível. Conhecida como a ilha dos enigmas, Nirraj é uma ilha cheia de cores, imagens, sons e formas que interagem simultaneamente com seus habitantes; repleta de segredos e superstições. Dizem que todos aqueles que a visitam se apaixonam e nunca mais retornam; muitos afirmam que Nirraj revive seu passado a cada minuto que se entende. Ela trás consigo, desde seus primórdios, as conquistas, os amores e esperanças de todos os seus habitantes.
Tudo em Nirraj possui algo de mágico, de lúdico: no primeiro dia da primavera, sentado num banco da praça, pode-se perceber o quanto o tempo parece não estar presente naquele momento, o tempo passa como uma leve brisa de verão em uma noite quente de verão. O tempo em Nirraj passa sempre sem querer passar.
Agora, espero que algum dia, em algum lugar, alguém leia estas palavras que escrevo de toda a minha alma, estas palavras que coloco nesta simples garrafa de vidro e arremesso em pleno Oceano pacífico. Espero sinceramente, que saibam que sou muito feliz aqui, em Nirraj: a ilha dos enigmas.


Leomir Santana